SANTA MARGARIDA MARIA ALACOQUE DIA 16 DE OUTUBRO
Deus suscitou este luzeiro, ou seja, portadora da luz, que é
Cristo, num período em que na Igreja penetrava as trevas do Jansenismo
(doutrina que pregava um rigorismo que esfriava o amor de muitos e
afastava o povo dos sacramentos). O nome de Santa Margarida Maria
Alacoque está intimamente ligado à fervorosa devoção ao Sagrado Coração
de Jesus. Nasceu na França em 1647, teve infância e adolescência
provadas, sofridas. Órfã de pai e educada por Irmãs Clarissas, muito
nova pegou uma estranha doença que só a deixou depois de fazer o voto à
Santíssima Virgem. Com a intercessão da Virgem Maria, foi curada e pôde ser formada na cultura e religião. Até que provada e preparada no cadinho da humilhação, começou a cultuar o Santíssimo Sacramento do Altar e diante do Coração Eucarístico começou a ter revelações divinas.
"Eis aqui o coração que tanto amou os homens, até se esgotar e consumir para testemunhar-lhe seu amor e, em troca, não recebe da maior parte senão ingratidões, friezas e desprezos". As muitas mensagens insistiram num maior amor à Santíssima Eucaristia, à Comunhão reparadora nas primeiras sextas-feiras do mês e à Hora Santa em reparação da humanidade.
Incompreendida por vários, Margarida teve o apoio de um sacerdote, recebeu o reconhecimento do povo que podia agora deixar o medo e mergulhar no amor de Deus. Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus e o Papa Pio XIII recomendou esta devoção que nos leva ao encontro do Coração Eucarístico de Jesus. Santa Margarida Maria Alacoque morreu em 1690 e foi canonizada pelo Papa Bento XV em 1920.
Santa Margarida Maria Alacoque, rogai por nós!
Santa Margarida Maria Alacoque
Foi
então que Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu a Margarida Maria
Alacoque, jovem religiosa da Ordem da Visitação, para transmitir sua
mensagem de misericórdia e confiança, expressa no Coração humano e
divino do Verbo Encarnado. O culto ao Sagrado Coração de Jesus obteve a
partir de então grande impulso e alastrou-se por toda a Igreja.
Infelizmente, com a descristianização geral, hoje essa devoção — aliás,
como tantas outras — perdeu praticamente todo o seu sentido de adoração,
reparação e petição, tão necessários nos nossos tempos.
Margarida
foi a quinta dos filhos de Cláudio Alacoque e de Felisberta Lamyn, e
nasceu a 22 de julho de 1647. Foi batizada três dias depois, tendo como
padrinho um primo de seu pai, o Padre Antônio Alacoque, e como madrinha a
senhora Margarida de Saint-Amour, esposa do senhor de Corcheval,
Cláudio de Fautrières.
Viviam
com Cláudio Alacoque, além da mulher e filhos, a mãe viúva, Joana
Delaroche; a irmã Benedita, casada com o primo Toussaint Delaroche, e
seus quatro filhos; e sua tia-avó, Benedita Meulin, mãe de Toussaint.(1)
Cláudio,
além de exercer o cargo de tabelião em Lhautecour, era juiz dos
senhorios de Terreau, Corcheval e Pressy, e também notário ordinário de
Terreau e Corcheval, o que lhe dava certa importância na vizinhança e
fartura em casa. Por isso, era presença indispensável em quase todos os
casamentos e batizados locais, seja na qualidade de padrinho, seja na de
testemunha.
Margarida
teria uns quatro anos quando, a pedido da madrinha, foi morar com ela
em seu castelo, em Beauberry. Queria a nobre dama, como era costume no
tempo, cuidar da educação da afilhada.
Na
capela de Corcheval, aos cinco anos de idade, “sem saber o que dizia,
sentia-me continuamente impelida a dizer estas palavras: ‘Meu Deus, eu
Vos consagro a minha pureza e Vos faço voto de perpétua castidade’”.(3)
Afirma
seu primeiro biógrafo: “Desde a infância lhe ensinou o Espírito Santo o
ponto capital da vida interior, comunicando-lhe o dom de oração. Seu
maior prazer era passar horas inteiras em oração; quando não a
encontravam em casa, iam à igreja, onde deparavam com ela imóvel diante
do Santíssimo Sacramento”.(4)
No
ano de 1654, Margarida, com oito anos, voltou para o lar paterno. Mas
não para gozar por muito tempo da alegria da família reunida. Nesse ano
morreu-lhe a irmãzinha Gilberta, e no seguinte o pai, aos 41 anos.
Deixava a viúva com cinco filhos para cuidar (sendo que o caçula tinha
apenas quatro anos), e uma situação econômica apenas equilibrada.
A
senhora Alacoque colocou os filhos mais velhos em colégios, e Margarida
como educanda no convento das clarissas mitigadas de Charolles.
Vendo
sua precoce piedade, as monjas permitiram que fizesse a Primeira
Comunhão aos nove anos de idade, quando o costume na época era aos doze.
Afirma ela: “Esta comunhão derramou tanto amargor em todos os meus
prazeres e divertimentos, que já não podia achar gosto em nenhum, apesar
de os procurar com afã”.(5)
Sinal
de predestinação é a devoção a Nossa Senhora. E Margarida sempre a teve
desde os albores da razão: “A Santíssima Virgem teve sempre grandíssimo
cuidado de mim, e a Ela é que eu recorria em todas as minhas aflições.
Foi Ela que me apartou de perigos muito grandes”.
Antes
mesmo de São Luís Maria Grignion de Montfort ter popularizado a devoção
da Sagrada Escravidão a Nossa Senhora, Margarida consagrou-se a Ela
como escrava.(6)
“
Os ossos furavam-me a pele de todos os lados”
Uma
grave doença, que alguns diziam ser reumatismo, e outros paralisia, pôs
a vida de Margarida em perigo, obrigando a família a retirá-la do
convento e levá-la para casa. A doença durou quase quatro anos. A menina
ficou semiparalítica e tão magra, que “os ossos furavam-me a pele por
todos os lados”, e não podia andar. Os médicos esgotaram toda a sua
ciência sem nenhum resultado.
Resolveu
então consagrar-se a Nossa Senhora, prometendo-lhe que, se sarasse,
seria uma de suas filhas. “Apenas fiz o voto – declara Margarida –
fiquei logo curada da doença, com nova proteção da Santíssima Virgem, a
qual tomou tão inteira posse do meu coração, que, olhando-me como filha
sua, governava-me como coisa que lhe fora consagrada; repreendia-me por
minhas faltas e ensinava-me a cumprir a vontade de Deus”.(7)
Sua mãe tinha-se despojado da própria autoridade
Nosso
Senhor queria dela, também nisso, uma virtude heróica: “Nem uma queixa,
nem um desabafo ou ressentimento consentia Ele em mim contra aquelas
pessoas; nem que eu permitisse que outros me lastimassem ou tivessem
compaixão de mim”.(9
Quando Cláudio Alacoque era vivo, devido à importância e prestígio de que gozava, todos viviam em paz em casa sob a autoridade paterna. Mas assim que ele morreu e Toussaint Delaroche tomou a direção dos negócios, sua mulher e sua sogra também se impuseram. E com tal tirania, que se tornaram as donas absolutas da casa: “Minha mãe tinha-se despojado da própria autoridade em sua casa, para a conceder a outras pessoas. [...] Não tínhamos, pois, nenhum poder em nossa casa, nem nos atrevíamos a fazer coisa alguma sem licença. Era uma guerra contínua; e tudo estava fechado à chave, de sorte que eu muitas vezes nem sequer encontrava com que me vestir para ir à Missa, senão pedindo touca e vestido emprestados”.(8)
Uma alma com uma vocação tão especial como a de Margarida Maria deveria seguir a trilha do sofrimento. Entretanto chegara ela aos 11 anos de idade sem praticamente ter conhecido de perto a cruz de Nosso Senhor. E Ele queria que sua filha predileta dela participasse.
Contemplativa desde a infância e devota de Nossa Senhora
Posta
assim na presença do Senhor, Ele “tão fortemente absorvia o meu
espírito, embebendo em Si a minha alma e todas as minhas potências, que
não cometia distração alguma; pelo contrário, sentia o coração consumido
em desejos de O amar. E daqui me nascia uma fome insaciável da Sagrada
Comunhão e de sofrimentos”.
A
maior possibilidade de união com Nosso Senhor, que Ele nos deixou na
Terra, é a que se dá na Sagrada Comunhão, na qual recebemos
verdadeiramente o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo. Daí a
“fome insaciável” que Margarida sentia da Sagrada Comunhão, encontrando
diante do Santíssimo Sacramento todas as suas delícias. Ali sentia-se
“tão absorta, que nunca me aborrecia. Ali passaria dias e noites
inteiras sem comer nem beber, e sem saber o que fazia, consumindo-me em
sua presença como uma tocha acesa, para pagar-lhe amor com amor”.(10)
Provada nas seduções do mundo e convidada pela graça
O
segundo irmão, Carlos Felisberto, tendo concluído igualmente os
estudos, voltou para casa. Ele e a mãe conceberam então o plano de casar
Margarida, já com 17 anos. A família Alacoque era bem relacionada e
estimada em toda a região. E Margarida, sem ser rica, tinha o suficiente
para um dote digno. Ainda que não se destacasse por especial formosura,
não deixava de ter certos atrativos, sobretudo de espírito.
A
pressão que fizeram sobre a adolescente foi terrível. “Por fim, o terno
amor da minha extremosa mãe começou a prevalecer. [...] Comecei então a
olhar para o mundo e a adornar-me para lhe agradar, procurando
divertir-me quanto podia”.
Mas,
se ela era persistente em sua falta, Nosso Senhor era persistente em
sua misericórdia: “Depois, à noite, quando tirava aquelas malditas
librés de Satanás, isto é, os vãos enfeites, instrumentos da malícia
dele, aparecia-me o meu soberano Senhor, como na flagelação,
completamente desfigurado, fazendo-me terríveis queixas: que as minhas
vaidades o tinham reduzido àquele estado; que eu perdia um tempo tão
precioso, de que Ele me havia de pedir rigorosa conta à hora da morte;
que o atraiçoava e perseguia, depois de Ele me ter dado tantas provas de
amor e me ter mostrado todo o seu desejo de que eu me tornasse
semelhante a Ele”.
A
cena era pungente. E a alma de Margarida não era insensível a tantas
graças: “Tudo isto se imprimia em mim tão fundamente, e me fazia tão
dolorosas feridas no coração, que eu chorava amargamente; ser-me-ia
muito difícil explicar tudo quanto sofria e se passava em mim”.(11) Para
compensar, entregava-se ela às mais terríveis penitências.
Novos sofrimentos e ação da divina misericórdia
E
eis que faleceu quase repentinamente, em 25 de setembro de 1665,
Cláudio Felisberto, também na idade de 23 anos. Foi nova provação para a
família. Só restavam, além de Margarida, Crisóstomo, o penúltimo, e
Jaime, o caçula, que queria seguir a carreira eclesiástica.
Narra
Margarida: “Estando como engolfada num abismo de espanto, por ver que
tantos defeitos e infidelidades minhas não eram capazes de O afastar de
mim, deu-me o Senhor esta resposta: ‘É que me apraz fazer de ti como que
um composto do meu amor e das minhas misericórdias’”.(12)
A intimidade com que Nosso Senhor lhe aparecia e falava é de pasmar. Ela como que vivia na presença perceptível de Deus.
Correspondendo à graça, define sua vocação
Entretanto,
“porque era muito débil”, Nosso Senhor pediu consentimento para se
assenhorear de sua liberdade. “Não pus dificuldade nenhuma em consentir;
e desde então [Nosso Senhor] apoderou-se tão fortemente da minha
liberdade, que nunca mais gozei dela em todo o resto da minha vida”.(13)
Isto,
é claro, é um modo de dizer, pois Deus não tira a ninguém o livre
arbítrio. O que na realidade se dava é que Nosso Senhor fortificava de
tal modo a sua vontade, por meio de graças especiais, que esta já não
vacilava. O que corresponde ao máximo grau de liberdade, que é o
conformar a própria vontade livre com a soberana vontade de Deus.
Livres, verdadeiramente, não são os que pecam, mas os que, podendo
fazê-lo, não o fazem.
Margarida
resistiu durante três anos às pressões que lhe faziam para casar-se.
Com o auxílio de um missionário que pregava missões na região, conseguiu
finalmente convencer Crisóstomo e a mãe de que seu lugar era no
convento.
Entrada no convento e novos sofrimentos
Margarida banhava-se em lágrimas, cuja razão ninguém sabia explicar, parecia afogueada e meio fora de si; quebrava as coisas, e parecia incapaz de qualquer serviço.
Ora,
essa via mística não era própria do convento da Visitação. Por isso,
outras religiosas apontavam-lhe o comportamento como singular, e as
superioras ordenavam-lhe que se conduzisse como todas as outras, sob
pena de não admiti-la à profissão, o que causava grande perplexidade à
noviça e era nova fonte de sofrimentos.
“Eu te farei mais útil à Religião do que ela pensa”
Ela decidiu favoravelmente sobre a profissão da Irmã Margarida Maria.
Quando
esta transmitiu-lhe uma mensagem de Nosso Senhor, a Madre mandou-lhe
que Lhe pedisse, como sinal de que era realmente Ele que falava, que a
tornasse útil à comunidade pela prática de suas regras.
“A
isto – diz Margarida Maria – respondeu-me o Senhor em sua amorosa
bondade: ‘Pois bem, minha filha, tudo isto te concedo; e eu te farei
mais útil à Religião do que ela pensa, mas há de ser de uma maneira que
até agora só eu sei; de hoje em diante acomodarei as minhas graças ao
espírito da tua regra, à vontade de tuas superioras e à tua fraqueza;
assim terás por suspeito tudo o que se apartar da exata observância da
tua regra, que eu quero prefiras a tudo o mais”.(15)
Vítima do Sagrado Coração de Jesus
Margarida protelava entretanto o pedido de permissão à Superiora: “Mas era em vão que eu lhe resistia, porque Ele não me deu repouso até que, por ordem da obediência, eu fosse imolada a tudo o que Ele desejava de mim, que era de me tornar uma vítima imolada a toda sorte de sofrimentos, de humilhações, de contradições, de dores e de desprezos, sem outra pretensão senão cumprir seus desígnios”.(16)
Fez
sua profissão no dia 6 de novembro de 1672. Como uma esposa, Margarida
deveria participar agora, de um modo mais direto, dos interesses de seu
divino Esposo, que a preparava para a grande missão de sua vida: receber
e propagar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
“Meu Coração está abrasado de amor pelos homens”
Estando
diante do Santíssimo Sacramento no dia 27 de dezembro de 1673, Nosso
Senhor lhe disse: “Meu divino Coração está tão abrasado de amor para com
os homens, e em particular para contigo, que, não podendo já conter em
si as chamas de sua ardente caridade, precisa derramá-las por teu meio, e
manifestar-se-lhes para os enriquecer de seus preciosos tesouros, que
eu te mostro, os quais contêm a graça santificante e as graças salutares
indispensáveis para os apartar do abismo da perdição; e escolhi a ti,
como abismo de indignidade e ignorância, para a realização deste grande
desígnio, para que tudo seja feito por mim”.(17)
E acrescentou: “Se até agora não tomaste senão o nome de minha escrava, eu te dou o de discípula dileta do meu Coração”.
Graças especiais onde houver imagem do Coração de Jesus
Nosso Senhor lhe fez ver que “o ardente desejo que Ele tinha de ser amado pelos homens e de os retirar da via da perdição, onde Satanás os precipita em multidão, o havia feito formar esse desígnio de manifestar seu Coração aos homens. [...] Ele queria a imagem exposta e portada sobre mim, e sobre o coração, para aí imprimir seu amor e cumular de todos os dons de que ele estava pleno, e para nele destruir todos os movimentos desregrados; e que, em toda parte onde essa santa imagem fosse exposta para aí ser honrada, Ele aí espalharia suas graças e bênçãos; e que essa devoção era como um último esforço de seu amor, com que queria favorecer os homens nestes últimos séculos, desta redenção amorosa, para os retirar do império de Satanás”.(18)
“Excesso a que tinha chegado em amar os homens”
A
data da chamada Terceira Grande Revelação não ficou registrada. Ocorreu
provavelmente em 1674, num dia em que o Santíssimo Sacramento
encontrava-se exposto. Margarida entrou em êxtase e viu Nosso Senhor
Jesus Cristo “todo radiante de glória com suas cinco chagas, brilhantes
como cinco sóis; e a sua sagrada humanidade lançava chamas de todos os
lados, mas sobretudo de seu sagrado peito, que parecia uma fornalha.
[...] Abrindo-o, descobriu-me seu amantíssimo e amabilíssimo Coração,
que era a fonte viva daquelas chamas. Foi então que Ele me mostrou as
maravilhas inexplicáveis do seu puro amor, e o excesso a que ele tinha
chegado em amar os homens, de quem não recebia senão ingratidões e
friezas”.(19)
“Eis o Coração que tanto amou os homens”
A
mais conhecida de todas as revelações, e em certo sentido a mais
importante delas, ocorreu segundo os estudiosos entre 13 e 21 de junho
de 1675, dentro da Oitava da Festa do Corpo de Deus. Nosso Senhor,
descobrindo-lhe o seu divino Coração, disse-lhe:
“Eis
o Coração que tanto amou os homens; que a nada se poupou até se esgotar
e consumir, para lhes testemunhar o seu amor. E em reconhecimento não
recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelos desprezos,
irreverências, sacrilégios e friezas que têm para comigo neste
Sacramento de amor. Mas o que é ainda mais doloroso é que os que assim
me tratam são corações que me são consagrados. Por isso te peço que a
primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento seja
dedicada a uma festa particular para honrar o meu Coração, reparando a
sua honra por meio dum ato público de desagravo e comungando nesse dia
para reparar as injúrias que recebeu durante o tempo que esteve exposto
nos altares. E Eu te prometo que o meu Coração dilatar-se-á para
derramar com abundância o influxo do seu divino amor sobre aqueles que
Lhe renderem esta homenagem”.(20)
Grande promessa da Comunhão reparadora
Tantas
graças da mais alta mística não podiam passar despercebidas, e
refletiam-se no exterior de Margarida Maria, que andava como que
transportada.
Embora fugindo à ordem cronológica da biografia de Santa Margarida Maria, parece-nos oportuno apresentar aqui a chamada Grande Promessa, revelada já no fim da vida da vidente de Paray-le-Monial: “Eu te prometo, na excessiva misericórdia de meu Coração, que seu amor todo poderoso concederá a todos aqueles que comungarem em nove primeiras sextas-feiras do mês, consecutivas, a graça da penitência final, não morrendo em minha desgraça e sem receber os sacramentos, tornando-se [meu divino Coração] seu asilo seguro no derradeiro momento”.(21)
É bem provável que a Segunda Grande Revelação — da qual, infelizmente, não se consignou a data — tenha ocorrido numa primeira sexta-feira do mês no ano de 1674.
Algum tempo antes dos exercícios espirituais, Nosso Senhor apareceu a Margarida Maria e lhe disse: “Eu procuro uma vítima para meu Coração, a qual queira se sacrificar como uma hóstia de imolação para o cumprimento de meus desígnios”. Ela se prosternou e lhe apresentou “diversas almas santas que correspondiam fielmente a seus desígnios”. Nosso Senhor lhe respondeu: “Não, eu não quero outra senão tu”.
No dia 25 de agosto de 1671, festa de São Luís Rei, ela tomou o hábito de noviça: “Estando já revestida do nosso santo hábito, meu divino Mestre fez-me ver que era chegado o tempo dos nossos esponsais, que davam a Ele novo domínio sobre mim e me traziam dobrada obrigação de O amar com amor de preferência”.(14)
Em 1663 Margarida iria sofrer um rude golpe. Seu irmão mais velho, João, tendo acabado os estudos em Charolles, estava pronto a iniciar sua carreira de notário quando, aos 23 anos de idade, foi ceifado pela morte.
Margarida procurava seu consolo na oração. E o próprio Nosso Senhor quis ser seu mestre: “Mandava-me prostrar-me humildemente diante de Si, para lhe pedir perdão de tudo aquilo em que O tivesse ofendido”.
Logo
em sua primeira preleção às monjas, ele notou uma que o ouvia mais
atentamente. A superiora informou-lhe que se tratava da Irmã Margarida
Maria. “É uma alma visitada pela graça”, comentou o jesuíta. Ao mesmo
tempo, uma voz interior dizia a Margarida: “Eis aquele que te
envio”.(22)
Como
os santos geralmente falam a mesma linguagem, o Padre la Colombière e a
Irmã Margarida Maria logo se entenderam. Por ordem da Madre de
Saumaise, “abri-lhe então, sem custo e com toda a lhaneza, o coração, e
descobri-lhe o íntimo de minha alma, o bem e o mal”, relata Margarida
Maria em sua autobiografia.(23)
Cláudio
la Colombière representou assim a caução humana das visões de Margarida
Maria. Acontecesse o que fosse — e muita perseguição e incompreensão
ainda teriam lugar —, um fato irremissível estava posto: o jesuíta
afamado por sua prudência e segurança de juízo estava certo da
autenticidade das visões da Irmã Margarida Maria.
Madre Péronne Rosália Greyfié chegou para substituir a Madre de Saumaise, no dia 18 de junho de 1678. Ao contrário desta, de grande simplicidade e amabilidade, a Madre Greyfié era rígida e austera, e tomou o partido de fingir que ignorava tudo o que se passava com Margarida Maria, deixando-a até ser objeto de críticas da comunidade, mesmo em coisas por ela autorizadas. Entretanto, tinha-a em alta conta: “Eu notava ainda que as graças que Nosso Senhor lhe concedia serviam para aprofundá-la no baixo sentimento que tinha de si mesma, o que a fazia crer que todas as criaturas tinham o direito de a desprezar e criticar em tudo, levando-a a amar como um tesouro essas ocasiões, das quais ela teria querido somente excluir o que ofendesse a Deus, afligindo-se de ser a causa disso”.(24)
Nosso Senhor lhe disse outro dia que, como havia feito em relação a Jó, o demônio pedira para tentá-la “no cadinho das contradições e humilhações, das tentações e desamparos, como o ouro no fogo”, e
que Ele tudo permitira, exceto que a tentasse contra a pureza; que Ele
estaria em seu interior como fortaleza inexpugnável, resistindo por ela.
“Mas era necessário vigiar continuamente sobre todo o exterior, que do interior cuidaria Ele”. Desde
então o demônio não lhe dava trégua, chegando mesmo, uma vez, a
lançá-la do alto de uma escada com um braseiro na mão. Mas seu Anjo da
Guarda amparou-a e ela nada sofreu.
“Não haverá quem queira padecer comigo?”
Indo
um dia comungar, Margarida viu a sagrada Hóstia resplandecente como um
sol. Em seu centro estava Nosso Senhor Jesus Cristo tendo uma coroa de
espinho na mão. Colocou-a na cabeça de Margarida, dizendo: “Toma, minha filha, esta coroa em sinal da que em breve te será dada, para te assemelhares a mim”.
A religiosa diz que no momento não compreendeu o significado daquilo,
mas que bem depressa o soube por duas violentas pancadas que recebeu na
cabeça, “de maneira que me parecia ter a cabeça rodeada de pungentíssimos espinhos, cujas picadas não acabarão senão com a minha vida”.(25)
Na
proximidade da Quarta-feira de Cinzas, provavelmente de 1681, Nosso
Senhor apareceu-lhe depois da Sagrada Comunhão, “sob a figura de um Ecce
Homo, carregando a Cruz, todo coberto de chagas e pisaduras, escorrendo
o sangue por todo o corpo”. Disse-lhe: “Não haverá ninguém que tenha
compaixão de mim e queira padecer comigo e tomar parte na minha dor, no
lastimoso estado a que me reduzem os pecadores, sobretudo agora?”
A
generosa Margarida Maria prosternou-se junto aos pés divinos e
ofereceu-se, em lágrimas e gemidos, para carregar a Cruz. Esta
pareceu-lhe toda cheia de pontas de prego, e ela sentiu-se quase
sucumbir sob seu peso. Com isso, diz ela, “comecei a compreender melhor a
gravidade e malícia do pecado, que eu detestava tanto em meu coração, e
mil vezes preferia precipitar-me no inferno em vez de cometer um só
pecado voluntariamente”.(26)
Mensagem ao “filho primogênito de meu Coração”
Assim, incumbiu a sua fiel serva de transmitir ao Rei da França, Luís XIV — a quem chama afetuosamente “filho primogênito de meu Sagrado Coração” — a
seguinte mensagem: Queria associá-lo ao triunfo de seu Sagrado Coração,
prometendo-lhe, caso fizesse o que lhe era pedido, cobri-lo de glória
ainda nesta Terra, como a nenhum outro Rei, e por fim conceder-lhe a
glória do Céu.
Não
sabemos se o augusto destinatário tomou conhecimento da divina
mensagem, nem se ela foi entregue ao confessor do Rei, Padre de La
Chaise. Uma coisa, entretanto, é certa: os pedidos do Sagrado Coração de
Jesus ao Rei Luís XIV jamais foram atendidos.
Uma
nova superiora, Madre Catarina Antonieta de Lévy-Châteaumorand, para
aliviar ou para provar a Irmã Margarida, que apesar de ter somente 43
anos já estava muito enfraquecida pelas penitências e longas
enfermidades, proibiu-lhe a hora de adoração noturna da quinta para a
sexta-feira e todas as austeridades que ela praticava, exigindo-lhe
mesmo a devolução dos instrumentos de penitência.(27)
No
mês de junho de 1690, Margarida dizia: “Eu não viverei muito mais,
porque não sofro mais”. Com efeito, esta santa, considerada uma das
maiores místicas da Igreja, entregou sua bela alma a Deus no dia 17 de
outubro desse mesmo ano.
Não viveria muito mais, porque não sofria mais
Nova Superiora prova Margarida Maria
São Cláudio la Colombière chancela as revelações
fonte: http://www.catolicismo.com.br/
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